O crime da Vale em Brumadinho
No dia 25 de janeiro de 2019, a barragem Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), se rompeu, soterrando com 13 milhões de metros cúbicos de lama tóxica tudo o que encontrava pelo caminho: pessoas, animais, florestas, casas… Casos como este, que podem se tornar mais frequentes com a flexibilização do licenciamento ambiental, não podem ser considerados acidentes, mas crimes socioambientais oriundos da ganância e da negligência. Em apenas três anos, a Vale foi responsável pelas duas maiores tragédias socioambientais do Brasil: Mariana e Brumadinho. Milhares de pessoas perderam seus familiares, seus lares e seu modo de vida. Basta de crimes como esses!
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Greenpeace em Brumadinho
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Barragem de Córrego do Feijão
Quase 13 milhões de m³ de lama tóxica, com rejeitos de minério, avançaram para a comunidade de Córrego do Feijão, em Brumadinho, destruindo casas, vegetação e até uma ponte na estrada. A lama se espalhou, atravessou o Rio Paraopeba e chegou ao Rio São Francisco.
© Fernanda Ligabue / Greenpeace
Córrego do Feijão fica a apenas três quilômetros da barragem da Vale e cerca de 500 pessoas moravam ali. A lama tóxica chegou na comunidade minutos depois da barragem romper. As pessoas tiveram que deixar suas casas às pressas e muitas perderam tudo o que tinham.
© Fernanda Ligabue / Greenpeace
Mais de 300 pessoas morreram engolidas pela lama tóxica. A maioria era de funcionários da Vale que trabalhavam ou almoçavam na hora do rompimento. O refeitório da empresa ficava abaixo da barragem e o alarme de emergência não tocou. Por isso, não houve tempo para que muitas dessas pessoas fugissem.
© Christian Braga / Greenpeace
O trabalho incansável do Corpo de Bombeiros foi crucial para encontrar e identificar as vítimas. Mesmo com salários atrasados, eles arriscaram a própria vida na lama tóxica, em uma operação sem data para acabar.
© Nilmar Lage / Greenpeace
Brumadinho
Uma cidade inteira chorando. Diante de tantas vítimas da tragédia, a frase “Brumadinho acabou” foi ouvida muitas vezes pela equipe do Greenpeace, quando estávamos no município.
© Christian Braga / Greenpeace
Todo mundo em Brumadinho conhece alguém que morreu vítima de mais esse crime da Vale. Uma semana depois da tragédia, uma vigília reuniu os moradores da cidade para homenagear os mortos e desaparecidos.
© Christian Braga / Greenpeace
É grande o sentimento de revolta entre a população de Brumadinho – e de todo o Brasil. A indignação aumentou ainda mais conforme as notícias mostraram que a Vale sabia do risco de rompimento da barragem, mas não tomou nenhuma providência.
© Christian Braga / Greenpeace
O rompimento da barragem em Brumadinho é um crime que poderia ter sido evitado, se a Vale não enxergasse apenas o lucro e tivesse respeito por quem depende dela economicamente. A empresa atua no município há 30 anos e emprega direta e indiretamente milhares de pessoas.
© Christian Braga / Greenpeace
Parque Estadual da Serra do Rola-Moça
A fauna e a flora de Brumadinho também sofreram grandes impactos. A região contava com uma biodiversidade riquíssima e as áreas próximas da barragem da Vale atuavam como berçário para muitas espécies. Agora, essa pequena bacia hidrográfica está praticamente morta
© Nilmar Lage / Greenpeace
Por ser uma área de transição entre Mata Atlântica e Cerrado, a importância ecológica deste lugar é enorme, porque abriga espécies animais e vegetais de ambos os biomas — muitas, inclusive, ameaçadas de extinção, como o lobo-guará.
© Christian Braga / Greenpeace
Uma área de 270 hectares, o equivalente a 300 campos de futebol, foi coberta pela lama tóxica, sendo que quase metade (138 hectares) era de floresta. A pesquisadora da UFOP Yasmine Antonini diz que a recuperação da natureza de Brumadinho pode levar centenas de anos.
© Nilmar Lage / Greenpeace
A perda de animais domésticos e de criação, como vacas, cachorros e gatos, também é incalculável. Esta é uma das vacas que ficaram atoladas na lama da Vale, na comunidade de Córrego do Feijão, e que acabou sendo sacrificada.
© Nilmar Lage / Greenpeace
Comunidade Córrego do Feijão
Quase dois mil bombeiros trabalharam nas buscas às vítimas, acessando as áreas atingidas pelos rejeitos por trilha na mata ou por helicóptero. A operação já foi considerada a maior do tipo na história de Minas Gerais.
© Nilmar Lage / Greenpeace
Arrastando-se na lama, os bombeiros passaram dias em contato com material tóxico contendo altas concentrações de ferro, amônia e sílica, usados no processo de separação do minério bruto. Alguns bombeiros apresentaram excesso de metais pesados no sangue.
© Nilmar Lage / Greenpeace
Tyara Fonseca, funcionária da Vale, ficou em estado de choque quando chegou ao local da tragédia para atuar como bombeira voluntária no resgate das vítimas. Ela não acreditava no que haviam se transformado as instalações da mineradora: “Eu não via nada, só lama, lama, lama”.
© Nilmar Lage / Greenpeace
Uma grande mobilização tomou conta de Brumadinho, com voluntários chegando de diferentes lugares para ajudar os atingidos com apoio e doações. Para alguns, era difícil conter a emoção ao acessarem a área impactada.
© Nilmar Lage / Greenpeace
Comunidade Parque da Cachoeira
A até então pacata comunidade Parque da Cachoeira, a cerca de nove quilômetros da barragem, também foi impactada pelos rejeitos, mas ali as pessoas tiveram tempo de fugir, evitando uma tragédia ainda maior.
© Christian Braga / Greenpeace
Cerca de 50 casas foram atingidas, além de plantações e chácaras que viraram um mar de lama. A Vale sabia que, em caso de rompimento da barragem, Parque da Cachoeira seria seriamente impactada.
© Christian Braga / Greenpeace
Além de ter varrido casas, a lama chegou até um córrego e poços artesianos que abasteciam a comunidade. A população, sem água na torneira, ficou dependente de doações de água mineral feitas pela Vale por muito tempo.
© Christian Braga / Greenpeace
“Dois dias após o rompimento da barragem da Vale, Parque da Cachoeira viveu mais um momento de tensão: devido ao risco de outra barragem se romper, os moradores que haviam ficado no local tiveram que ser retirados às pressas.”
© Nilmar Lage / Greenpeace
Centro Administrativo da Vale
Poucos segundos depois da barragem romper, a lama atingiu o centro administrativo da Vale e uma ferrovia, levando pessoas e carros. O alarme de emergência que não tocou poderia ter evitado muitas mortes.
© Fernanda Ligabue / Greenpeace
A oficina e o refeitório da Vale ficavam numa área abaixo da barragem. Centenas de pessoas trabalhavam ou almoçavam no momento do rompimento. Essa localização arriscada só prova a negligência da Vale com a segurança dos trabalhadores e da população local.
© Nilmar Lage / Greenpeace
A Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale reúne pessoas que tentam responsabilizar a empresa por tragédias como a de Brumadinho e Mariana. Algumas delas até compraram ações para ter poder de voto dentro da empresa.
© Nilmar Lage / Greenpeace
Carolina Campos é uma dessas acionistas. Meses antes da tragédia em Brumadinho, ela se opôs à continuação das atividades na Mina Córrego do Feijão e alertou a Vale sobre os riscos. “Um massacre coletivo dessa magnitude não pode ficar impune, não. Já basta toda a impunidade de Mariana”, diz.
© Christian Braga / Greenpeace
Comunidade Casa Branca
Como confiar que outras barragens não vão tirar vidas? A mineradora MGB vem tentando reativar a Mina Casa Branca, também em Brumadinho. Se as barragens dessa mina romperem, Casa Branca, a comunidade que mais recebe turistas na região, será totalmente destruída.
© Nilmar Lage / Greenpeace
Wander Alves, comerciante e morador de Casa Branca, está receoso: “Meu medo é de ser atingido também, pego de surpresa. Assim como pegaram gente almoçando em Córrego do Feijão, pode pegar pessoas se divertindo, turistas dentro do meu estabelecimento”.
© Nilmar Lage / Greenpeace
“A tragédia em Brumadinho mostra que a forma como as barragens de mineração vêm sendo licenciadas e fiscalizadas no Brasil é equivocada, o que aumenta a desconfiança e o medo das populações que vivem próximas a esses empreendimentos.”
© Nilmar Lage / Greenpeace
A professora Vera Baumfeld tem participado das discussões sobre licenciamento e fiscalização de barragens em Minas Gerais e atesta: há um acordo de cavalheiros entre os políticos locais e as mineradoras, “A tristeza é saber que a gente pode estar prestes a enfrentar tudo isso de novo”, diz.
© Nilmar Lage / Greenpeace
São Joaquim de Bicas
O Rio Paraopeba foi uma das vítimas da lama tóxica da Vale, que trouxe altas concentrações de metais e aumentou em mais de cem vezes a turbidez da água. Nessas condições, a água se torna inutilizável e nenhuma forma de vida consegue sobreviver.
© Christian Braga / Greenpeace
Apenas uma semana depois do rompimento da barragem, análises mostravam que cerca de 40 quilômetros do Rio Paraopeba estavam mortos. Hoje, sabe-se que a contaminação chegou até o Rio São Francisco.
© Christian Braga / Greenpeace
A contaminação do Paraopeba impediu que a população continuasse a aproveitar o rio para lazer e pesca. Dias depois da tragédia, a prefeitura do município de Pará de Minas interrompeu a captação da água do rio, que abastece a população.
© Christian Braga / Greenpeace
Luís, morador de Brumadinho, observa o rio contaminado. Ele diz que aquilo é triste demais. “Não dá nem pra explicar, porque esse rio nunca teve essa cor. A gente via peixe nadando aqui. Agora acabou”.
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Aldeia Naô Xohã
O povo indígena Pataxó Hã-hã-hãe também foi impactado pela Vale. O trecho do Rio Paraopeba que passa ao lado da aldeia Naô Xohã, a 22 quilômetros da barragem, foi contaminado pelos rejeitos e por isso os indígenas não podem mais usá-lo para pescar e tomar banho.
© Nilmar Lage / Greenpeace
A vice-cacique Werrymery Hã-hã-hãe mostra garrafas com amostras da água do rio. Uma coletada antes da lama tóxica chegar à aldeia, e a outra quando os rejeitos atingiram esse ponto do rio. “A terra está vomitando, então ela não está bem. Tudo que destrói a natureza destrói a si mesmo”, disse.
© Nilmar Lage / Greenpeace
O cacique Háyô Hã-hã-hãe vê com preocupação a proposta de permitir mineração em Terras Indígenas, especialmente quando fica clara a falta de transparência das mineradoras. “Temos que ter respeito à natureza e dizer ‘não’ à mineradora”, diz.
© Nilmar Lage / Greenpeace
Antônia Remunganha é a anciã da aldeia e lamentava os últimos acontecimentos: “Isso foi uma tragédia muito dolorosa. Só o tanto de gente que morreu, os peixinhos que a gente pegava pra comer… Hoje ninguém pode pegar um peixe pra comer. O rio virou uma lama. O que será de nós?”
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Mário Campos
Muitos pequenos agricultores, como Alexandre Gonçalves, tinham o rio Paraopeba como fonte para irrigar suas hortas, que precisam de água o dia todo. Com o rio contaminado pela lama, eles tiveram a produção altamente impactada.
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Em Mário Campos, há diversas plantações de alface, agrião, rabanete, mostarda e brócolis. Boa parte delas alimenta a região metropolitana de Belo Horizonte, mas, dias após a tragédia, a demanda por legumes e hortaliças diminuiu. Muitos compradores estavam com medo dos alimentos estarem contaminados.
© Christian Braga / Greenpeace
Fábio Adelardo é um dos agricultores prejudicados pela impossibilidade de usar a água do rio. Uma semana depois do rompimento da barragem, ele demitiu três funcionários, pois sabia que venderia muito menos de suas hortaliças e legumes nos próximos meses. “Sem o rio, não dá para produzir”, diz.
© Christian Braga / Greenpeace
Desde que o rio em frente à casa de Geraldo de Oliveira ficou cor de tijolo, ele a coleta em garrafas plásticas, esperando o dia em que ela estará limpa de novo. Quando isso acontecer, ele vai religar a bomba que traz a água do rio para regar sua pequena horta de salsinha e coentro.
© Christian Braga / Greenpeace
Belo Horizonte
Um ato tomou conta de ruas em Belo Horizonte seis dias após o rompimento da barragem. Pessoas protestavam e exigiam que a Vale seja devidamente responsabilizada por mais esse crime.
© Nilmar Lage / Greenpeace
A barragem de Córrego do Feijão teve sua categoria rebaixada para “de baixo risco” como uma forma de acelerar e facilitar seu licenciamento. O rompimento é criminoso e é mais um episódio decorrente do modelo predatório de mineração adotado pelo Estado brasileiro em conivência com as empresas que atuam no setor.
© Nilmar Lage / Greenpeace
A Vale é a companhia privada que mais possui barragens no Brasil. São 175 no total, sendo 167 de contenção de rejeitos de mineração, como a de Córrego do Feijão. Tanto o Ministério Público quanto a Agência Nacional de Águas vêm relatando que cerca de um terço das barragens da Vale estão em situação de alto risco de colapso.
© Nilmar Lage / Greenpeace
Com os crimes em Mariana e em Brumadinho, a Vale é responsável pela morte de mais de 320 pessoas. A empresa já é considerada uma das mineradoras que mais mataram no mundo.
© Nilmar Lage / Greenpeace
Usina Hidrelétrica Retiro Baixo
A equipe do Greenpeace esteve no Rio Paraopeba, na altura do município de Pompéu, quando a lama da Vale ainda não havia alcançado a região, o que aconteceu cerca de duas semanas após o rompimento da barragem.
© Christian Braga / Greenpeace
Esta é a Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, entre os municípios de Pompéu e Curvelo. Com o risco de contaminação, as turbinas foram desligadas para evitar que os rejeitos comprometessem seu funcionamento. A lama chegou ao reservatório 16 dias depois do rompimento.
© Christian Braga / Greenpeace
Após alcançar a usina, a água contaminada seguiu o curso do Rio Paraopeba e atingiu o Rio São Francisco. Segundo análises da SOS Mata Atlântica, as concentrações de ferro, manganês, cromo e cobre estavam acima dos limites máximos permitidos na legislação, tornando a água imprópria para uso da população.
© Christian Braga / Greenpeace
Em carta enviada à Organização das Nações Unidas (ONU), o Greenpeace e outras entidades denunciam que o rompimento da barragem em Brumadinho é uma “séria violação de direitos humanos” com “graves danos ambientais” e pedem a exclusão da Vale do Pacto Global, maior rede de responsabilidade social corporativa do mundo.
© Christian Braga / Greenpeace