Política antiambiental nos levou a uma taxa quase três vezes maior do que a meta de redução do desmatamento determinada por lei para 2020

Registro de área queimada um ano após o Dia do Fogo na Amazônia. © Christian Braga / Greenpeace

*Atualizado em 16/06/21

O desmatamento da Amazônia atingiu 11.088 km², entre agosto de 2019 e julho de 2020, segundo dados do PRODES divulgados nesta segunda-feira (30). Os números indicam um aumento de 9,5% no desmatamento do bioma, o maior índice desde 2008. Para se ter uma ideia mais concreta do tamanho da destruição, a área derrubada ou queimada é equivalente a 1,58 milhão de campos de futebol, 4.340 campos de futebol por dia, ou 3 campos por minuto! O estado que mais desmatou a Amazônia foi o Pará, seguido de Mato Grosso, Amazonas e Rondônia. 

“Perdemos uma área 7,29 vezes o tamanho da cidade de São Paulo no período considerado pelo Prodes, um número que representa 626 milhões de árvores cortadas, ou seja, 3 árvores perdidas por cada brasileiro. Este cenário já era sabido. E, ainda assim, a resposta do governo federal frente ao aumento do desmatamento  tem sido maquiar a realidade, militarizar cada vez mais a proteção ambiental e trabalhar para coibir a atuação da sociedade civil, ferindo a nossa democracia”, afirma Cristiane Mazzetti, porta-voz de Amazônia do Greenpeace.

O desmonte de órgãos como Ibama e ICMBio e as políticas antiambientais nos levaram a uma taxa quase três vezes maior do que a meta de redução do desmatamento determinada por lei para 2020, de acordo com a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC). A Política, estabelecida em 2009, estabelece a meta de reduzir em 80% a taxa anual de desmatamento na Amazônia (em relação à média entre 1996 e 2005), ou seja 3.925km².

Monitoramento de Desmatamento e Queimadas na Amazônia em Julho de 2020 - Caso “Maranhense”. © Christian Braga / Greenpeace
“Maranhense” é um dos maiores pecuaristas do Pará e acumula R$ 45 milhões em multas por danos ambientais. Nesta investigação, o Greenpeace traz indícios de sua atuação em fraude e desmatamento ilegal relacionado a ele e sua fazenda Tiborna (PA), situada próxima a APA Triunfo do Xingu. Em julho de 2020, monitoramos pontos com alertas do Deter e de pontos de calor, do Inpe, nos estados do Pará e Mato Grosso. © Christian Braga / Greenpeace

Entre as regiões de destaque no desmatamento no desmatamento estão a BR-163 e a Terra do Meio, no Pará, onde há avanço nítido sobre áreas de florestas públicas não destinadas e invasão de áreas protegidas.  No Pará, os alertas já apontavam áreas protegidas sendo muito desmatadas, como a APA (Área de Proteção Ambiental) Triunfo do Xingu, APA do Jamanxim, Flona de Altamira e terras indígenas Cachoeira Seca, Ituna Itatá e Apyterewa. Todas essas regiões, inclusive, ficaram de fora do roteiro da viagem de campo organizada no início do mês pelo governo federal com embaixadores, numa clara tentativa (que já está se tornando histórica) de maquiar a realidade. A rota estrategicamente traçada para negar as evidências da destruição da floresta passou apenas por regiões mais protegidas, deixando de lado onde o desmatamento no estado está completamente fora de controle. 

Enquanto isso, no mundo real, em vez de concentrar esforços para reduzir a destruição, os órgãos ambientais devem sofrer um corte de orçamento de 35% para 2021, caso a proposta do governo Bolsonaro seja aprovada pelo Congresso Nacional. Esse é um cenário inaceitável e vai na contramão do que querem os brasileiros, como mostrou pesquisa recente do Datafolha, encomendada pelo Greenpeace. Nesta, 87% dos brasileiros atribuem nota máxima, dez (10), para a importância de se preservar a Amazônia e 92% acreditam que é possível desenvolver sem desmatar a floresta. 

“A visão de desenvolvimento do governo Bolsonaro para a Amazônia nos leva de volta ao passado, com taxas de desmatamento não observadas desde 2008. É uma visão retrógrada, que não conversa com a maioria dos brasileiros e não condiz com os esforços necessários para lidar com as crises do clima e da biodiversidade. A incômoda verdade se revela por meio de números que dão a dimensão do descaso e da ineficácia”, diz Cristiane. 

* Após divulgação da taxa consolidada pelo INPE, a estimativa da taxa foi ajustada para 10.851 km², um aumento de 7,13%. Ainda assim, a maior taxa desde 2008.

O desmatamento precisa acabar! 

A destruição da floresta é uma ameaça não apenas ao bioma, mas à vida e ao futuro de todos nós. A Amazônia é fundamental para regular o sistema climático global e para espalhar chuva para outras regiões do país. Se não pressionarmos para barrar a destruição, essa conta, que já começou a chegar, vai ficar cada dia mais cara. 

Por isso, é urgente que o governo brasileiro tome medidas para reverter este cenário. Veja algumas delas: 

  • Retomada imediata de um plano articulado de combate ao desmatamento, que de fato caiba mais enfrentamento da destruição ao invés de incentivo ao crime contra a floresta. (nos moldes do PPCDAM- Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia
  • Retomada da criação e implementação de áreas protegidas (Unidades de Conservação e Terras Indígenas), a fim de garantir a proteção de florestas públicas ainda não destinadas e combater a grilagem
  • Fortalecimento e destinação de recursos para Ibama e ICMBio: retomada do protagonismo desses órgãos no combate à destruição e aprovação de um orçamento que viabilize as atividades necessárias para coibir o desmatamento na Amazônia. A proposta sugerida pelo executivo para 2020 está aquém do mínimo necessário.

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