Enquanto a sociedade sai às ruas e exige ações para conter a emergência climática, governantes se reúnem em Madrid para decidir questões cruciais para o futuro da humanidade

Julia Ueamura, 16 anos, na Greve do Clima em São Paulo, no Largo da Batata, em 29/11/2019.
© Christian Braga / Greenpeace

Na última sexta-feira, dia 29 de novembro, o Brasil e o mundo voltaram a se manifestar para cobrar de governo e empresas ações para combater a emergência climática. A Greve Global pelo Clima, convocada pelos jovens do movimento “Sextas pelo Futuro” (Fridays for Future), ocorreu em 2.400 cidades, em 157 países. A data escolhida teve como objetivo também fazer uma cobrança direta aos representantes dos países que se reúnem a partir desta segunda na Conferência das Partes pelo Clima (COP-25), em Madrid. O evento, que acontece de 2 a 13 de dezembro, tem como objetivo discutir o Acordo de Paris, que prevê que os países limitem as emissões de gases de efeito estufa para conter o aumento da temperatura terrestre e, por consequência, as alterações climáticas.

Em todos os continentes, o movimento da juventude pelo clima vem anunciando: “Não há mais tempo a perder!”. Porém, o que tudo indica é que muitos governantes não estão comprometidos o suficiente. O caso brasileiro é um dos mais alarmantes: o governo Bolsonaro já apresenta a maior taxa de desmatamento desde 1998, com uma alta de 29,5%.

Além dos números concretos que comprovam o aumento do desmatamento no governo atual, o governo de Jair Bolsonaro insiste em fazer falsas e criminosas acusações contra organizações ambientais. Nesse balaio, nem o ator de Titanic, Leonardo DiCaprio ficou de fora da culpabilização do governo – DiCaprio foi acusado de financiar os incêndios na Amazônia. Em vez de resolver a questão, o governo passa a acusar a todos por sua incapacidade de lidar com a agenda socioambiental brasileira, em meio a perseguições e acusações que não devem ser admitidas. O resultado é a incapacidade de se encontrar os responsáveis e de achar solução para os diversos crimes ambientais ocorridos neste ano, como o derramamento de óleo na costa brasileira e o desmatamento na Amazônia, que é hoje responsável pelo maior volume de emissões do Brasil. 

A esperança vem das ruas, de jovens e crianças que terão seu futuro ainda mais comprometido se grandes empresas e governantes não assumirem e cumprirem compromissos para conter o aumento da temperatura global e evitar o colapso. Hoje o mundo é em média 0,87 grau mais quente que nos níveis pré-industriais. Se o aumento da temperatura continuar na velocidade dos últimos anos, poderá chegar a 1,5 grau entre 2030 e 2052, muito antes do final do século (o Acordo de Paris tem como objetivo conter a temperatura global em 2 graus, preferencialmente em 1,5°, até 2100) com grandes impactos para a humanidade, que já são sentidos por muitos brasileiros.

O governo de Jair Bolsonaro chega à COP em Madrid com a imagem já deteriorada na agenda internacional e com ações pouco condizentes com as necessidades do Acordo do qual que é signatário. Apesar do Brasil ter sua assinatura no Acordo, está cada vez mais longe de cumprir até mesmo as metas menos ambiciosas assumidas

Nas ruas ou onde quer que nossas vozes possam chegar, estamos cobrando

No Largo da Batata, um dos espaços públicos que os moradores paulistanos costumam ocupar para protestar por direitos que lhes são negados, ou então para que as reivindicações coletivas cheguem aos tomadores de decisão, Mateus Santos, de 13 anos, caminhava com uma placa na mão: “crise climática”. No discurso e na ação, ele reivindicava por uma mudança conjunta e em todas as esferas da sociedade. A juventude que tem sido a voz a gritar mais alto no movimento em defesa do Clima não apenas cobra, mas age, e Mateus é prova disso.

Mateus Chahim Santos, 13 anos, na segunda Greve do Clima em São Paulo, no Largo da Batata.
©Christian Braga / Greenpeace Brasil

Muitas das coisas que a gente conhece hoje no mundo e muito da forma como a sociedade vive, tudo pode acabar por conta de uma revanche que a natureza já está dando na gente. Precisamos tanto mudar hábitos básicos como também cobrar o governo por suas responsabilidades diante da crise climática. Eu estou desenvolvendo um site para mostrar o quanto cada ser humano pode contribuir mudando coisas simples do dia a dia como, por exemplo, usar menos água, comer menos carne e priorizar o transporte público. Sem esquecer, é claro, da importância de mudarmos nossa matriz energética, que hoje é extremamente impactante e poluente”, disse Mateus. 

E tem sido assim os encontros que temos tido desde que a Greve Global pelo Clima começou a ganhar corpo aqui no Brasil. Temos encontrado e convivido com jovens que estão revisitando  hábitos e práticas já impostas pela sociedade, que têm se conectado com os impactos no clima mundial e que escolheram não deixar de olhar para as consequências dessas escolhas.

Ao mesmo tempo em que São Paulo fazia um protesto político-cultural em que o diálogo sobre a questão climática ganhou inclusive o primeiro olhar de muitos que apenas passavam por ali, jovens de outras cidades tomaram a frente de ações para que a data ficasse marcada também em outras regiões do país como Brasília, Rio de Janeiro e Manaus. 

No espaço de microfone aberto aos diversos representantes da sociedade civil, manifestaram-se artistas, ambientalistas, indígenas, jovens e crianças. “Essa pressão é importantíssima e, no caso especial do Brasil, ela vem em tom de denúncia diante dos desmandos da agenda socioambiental do atual governo. Por isso, precisamos manter o olhar firme e a voz alta para denunciar caso mentiras, inverdades e falácias forem ditas durante a COP. A sociedade e principalmente os jovens estão de parabéns pela atitude. Continuemos cobrando de governos, mas também das empresas brasileiras que estão muito acomodadas e que têm falhado ao não assumir metas de redução de emissões”, disse Carlos Rittl, coordenador do Observatório do Clima, durante sua fala no evento.

No Rio de Janeiro, o protesto foi feito em forma de artivismo, que é quando a arte se torna uma aliada da transmissão da mensagem que se quer passar. No dia em que a sociedade se rendia ao fervor da sede de consumo, apelidado de Black Friday, as jovens Ana Gil e a Nayara Almeida, do Fridays For Future Rio de Janeiro, fizeram da Greve Global um jeito criativo e direto de criticar o incentivo a um sistema que se baseia na exploração desenfreada dos recursos naturais do planeta e na exploração de mão de obra. Elas usaram caixas de papelão com dizeres como “Adquira já um planeta pra chamar de seu”. A proposta foi uma forma de ironizar o dia em que o comércio investe em descontos para aumentar as vendas. 

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