A saúde das florestas, das quais nós e todas as outras espécies dependemos, está sendo destruída mais rapidamente do que nunca. E a nossa também

Foto captada durante sobrevoo do projeto Asas da Emergência, busca levar apoio às comunidades indígenas da Amazônia atingidas pela pandemia. (© Christian Braga / Greenpeace)

Há um ano, o mundo todo foi chacoalhado pela pandemia de Covid-19. Ninguém escapou de ter que rever sua vida, suas escolhas, sua rotina. No Brasil, até o momento, mais de 280 mil pessoas já perderam a vida, em uma tragédia que ainda não tem hora para acabar. Entretanto, ainda aprendemos pouco sobre empatia e sobre as mudanças que precisamos fazer, como comunidade globalizada que somos, para nos proteger. 

O acesso às vacinas e o apoio à vida são os primeiros e mais urgentes passos necessários para começarmos a nos reconstruir. Mas para curar as feridas, será preciso ir bem além, e neste Dia Internacional das Florestas, lembramos que proteger as florestas e sua biodiversidade é um ponto central neste processo. 

Pandemia e desmatamento

Quanto mais destruímos ecossistemas naturais, mais facilitamos o aparecimento de doenças, que podem se transformar em epidemias e pandemias e causar perdas para toda a sociedade. Ainda assim, continuamos testemunhando a destruição das florestas ao redor do mundo e especialmente no Brasil.

Nos últimos 50 anos, houve um aumento de 400% no número de doenças infecciosas emergentes, que afetam humanos com patógenos (fungos, vírus ou bactérias) novos ou que já existiam antes, para os quais temos pouca ou nenhuma imunidade desenvolvida. A maior parte dessas doenças (75%) é de origem zoonótica, ou seja, transmitida de animais para humanos. 

Uma das principais causas para o surgimento de doenças emergentes é a mudança do uso do solo, o que inclui em grande parte o desmatamento. Um estudo feito pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), defende que, desde 1940, o aparecimento de 31% dos surtos de doenças desse tipo estavam ligados à mudança do uso do solo, principalmente em florestas tropicais. 

A transformação dessas paisagens tem feito com que entremos cada vez mais em contato com os seres que carregam esses vírus e bactérias capazes de afetar nossa saúde. Quando as florestas são invadidas, para servirem à exploração desenfreada de seus recursos, aumentamos as possibilidades de contaminação.

Ou seja, a continuidade do desmatamento, somada à alta densidade populacional e grande circulação das pessoas pelo mundo, potencializa o surgimento de cada vez mais surtos de doenças infecciosas.

Sem contar todas as outras consequências que afetam nossa saúde e que são agravadas pelo desmatamento: efeitos das mudanças climáticas, contaminação do ar, falta de alimentos, falta de água. Não dá para falar em recuperação global, sem falar na proteção das florestas e dos oceanos. O mundo está doente e precisamos rever também a forma como nos relacionamos com ele. 

Acorda, Brasil, o trator ruralista segue avançando!

Sim, as florestas são fundamentais para o clima, para a água, para os animais, para a nossa vida! Então parece óbvio que todos os países do mundo já estejam preocupados e agindo para protegê-las, especialmente um país como o Brasil, que guarda 60% da maior floresta tropical do mundo. 

Na prática, tivemos o terceiro ano consecutivo de aumento no desmatamento da Amazônia em 2020, com crescimento de 9,5%, segundo o Prodes. E para 2021 a situação continua grave, com o esforço público do Governo Federal e seus aliados para “passar a boiada” em definitivo sobre a proteção ambiental, enquanto o povo está ocupado no esforço de conseguir se sustentar, se alimentar e manter-se vivo. 

Para piorar ainda mais a situação, na corrida para colocar o plano “negligencial” em prática, o Congresso se prepara para votar, em tempo recorde e com a menor participação popular possível, um enorme pacote de retrocessos na proteção ambiental, que poderão deixar pela história marcas difíceis de apagar. 

Entre os projetos que representam grande ameaça ao interesse coletivo, à nossa saúde e à economia do Brasil, estão: a legalização da grilagem (roubo de terras públicas); a fragilização do licenciamento ambiental; a abertura de terras indígenas para mineração (PL 191/2020); e aumento da liberação de agrotóxicos; entre tantos outros absurdos liderados pela bancada ruralista e outros setores que apoiam atividades ilegais. Em essência, essas propostas pretendem modificar as regras para o uso e ocupação do solo, legalizando atividades até então ilegais.

Tanto no caso do avanço do desmatamento e queimadas vistos ano passado, como no caso dos recordes de mortes pela pandemia, a sociedade está sendo vítima da negligência do governo Bolsonaro para enfrentar esses problemas, com base em fatos científicos, de forma transparente e que atenda aos interesses da população. Em ambos os casos vemos um despreparo total para lidar com a vida – especialmente a da população.  

Os desafios são muitos e diários atualmente no Brasil, por isso precisamos insistir em proteger os que amamos, o que nos faz bem, o que nos traz paz e saúde. Se não o fizermos, quem o fará? Precisamos lutar pela vida e defender o patrimônio socioambiental do povo brasileiro.

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